Na Alemanha, Ramon Maciel, dentista e CEO do Simples Dental participou do International Dental Show (IDS), maior evento de Odontologia e apresenta as principais tendências aqui!
A nossa profissão de dentista é sempre cheia de novidades, principalmente, com o movimento digital, que chegou com força total nos últimos anos. Confesso que isso sempre me atraiu muito na Odontologia.
Por isso, em busca de novos conhecimentos e conexões, tive a oportunidade de viajar para a Alemanha para visitar o International Dental Show (IDS), conhecido como o maior congresso de Odontologia do mundo.
Na edição deste ano, o ISD foi histórico, pois completou 100 anos de existência. Aqui neste artigo, quero compartilhar um pouco da minha jornada por lá.
Foram cinco dias intensos de palestras, workshops, demonstrações ao vivo, e muita, muita informação sobre as tendências mais quentes da Odontologia. Uma das tendências mais fortes que percebi foi a integração entre a Odontologia e a tecnologia.
A cada ano que passa, mais e mais empresas estão desenvolvendo produtos e tecnologias que ajudam os dentistas a fazerem um trabalho ainda mais preciso e eficiente.
E eu posso afirmar que o Brasil está muito bem representado nesse quesito! Sim, pode parecer que a Europa é a terra da Odontologia, mas eu vi muita coisa boa feita pelos nossos dentistas brasileiros. É uma questão de criatividade e, claro, de dedicação.
Foi uma experiência incrível, mas antes de contar tudo, gostaria de fazer algumas ponderações:
Mercado alemão
Durante minhas conversas com diversas empresas alemãs, ficou evidente que a Odontologia na Alemanha é a mais robusta da Europa. Muitas empresas europeias têm o desejo de ingressar no mercado alemão, porém, torna-se claro que ele não é muito acessível, e falarei mais sobre isso neste conteúdo.
Primeira viagem internacional
Essa foi a minha primeira viagem internacional e, consequentemente, a minha primeira participação ao IDS. Por isso, talvez algumas coisas que me impressionaram podem ser que sejam corriqueiras para viajantes mais experientes.
Ponto de vista
Por último, esse artigo trata da minha opinião sobre o que vi lá e o que conheço da Odontologia brasileira. Assim, fique a vontade para discordar do meu ponto de vista ou contribuir com alguma coisa que você ache interessante aqui nos comentários.
Tudo pronto para embarcar? Aperte os cintos e nos acompanhe nessa viagem!
Fizemos uma conexão em Amsterdam e fomos direto para Frankfurt. Foram umas 16 horas de viagem até então e tirando o cansaço estava tudo bem. Mas algo inesperado aconteceu.
Estávamos em um grupo de quatro pessoas da Henry Schein Brasil (grupo ao qual a Simples Dental faz parte), tivemos a infeliz surpresa de nenhuma das bagagens estarem lá. Ou seja, todos só tinham a roupa do corpo.
Esse com certeza não é o melhor jeito de começar uma viagem, mas fizemos o processo necessário para tentarem encontrar nossas malas. Em paralelo, alugamos dois carros. Inclusive, um deles era um Tesla Model S e fomos comprar algumas roupas para passar pelo menos alguns dias sem as malas.
Já faz tempo que eu queria andar em um Tesla. Queria entender de onde vem esse “hype” todo. E de fato, fiquei encantando. Querendo ter um! Tirando os 15 minutos que gastamos para tentar ligar o carro e tivemos que recorrer ao bom YouTube para ver como funcionava a ignição.
Sobre o carro, ele é incrível, muito rápido. A aceleração dele é uma coisa insana, realmente dá medo de acelerar tudo que ele tem. E a combinação do carro com as estradas da Alemanha é algo raro que você encontra em poucos lugares do mundo. Ele chega de 0 a 100 em 2,5 segundos.
Andamos 1 hora e meia de carro e chegamos em Colônia, onde aconteceu o IDS.
Acordamos cedo, tomamos café no hotel e partimos para Colônia. Ao chegar no evento, realizamos o credenciamento e, a partir de um QR Code, você tem acesso aos pavilhões. O processo foi rápido, pois existia esse credenciamento em vários lugares diferentes.
O IDS é o maior evento de odontologia do mundo e, por isso, a expectativa estava lá em cima. Realmente, o evento é muito grande, atendendo minhas expectativas.
A organização dele é divida em grandes pavilhões, e alguns desses ambientes tem mais de um andar, ou seja, tem que caminhar muito para visitar tudo. Durante esses meus dias por lá, eu andei 92km. Com isso, você consegue ter uma noção do quanto esse lugar é grande.
Os pavilhões são mais ou menos divididos por tema. Exemplo: o pavilhão 3C tinha mais softwares. Já o pavilhão 2A tinha mais empresas de alinhador e assim por diante.
Na prática, tem muita empresa que não seguia esse padrão, mas a gente percebia uma tentativa dessa organização.
No Brasil, a Odontologia a cada dia que passa se torna uma profissão predominantemente ocupada por mulheres, isso fica claro nos dados de usuários do Simples Dental, e em dados das universidades, com a maioria dos estudantes no curso de Odontologia sendo mulheres.
Porém, no evento, a grande maioria dos congressistas era de homens. Não tenho o dado oficial, mas chutaria algo em torno de 80% homens. Isso é muito diferente no Brasil.
Outra curiosidade é que os estudantes são quase inexistentes por lá. Praticamente todas as pessoas com quem eu falei eram dentistas formados, pós-graduados, mestres e doutores. Interessante ver que poucos estudantes de graduação participaram do evento.
Mas o mais incrível foi ver a diversidade de raças, culturas e idiomas. O evento tinha pessoas do mundo todo, desde visitantes a expositores. Caso você tivesse a oportunidade de sentar em um banco para descansar, conseguiria observar a quantidade de pessoas fisicamente diferentes e falando todo tipo de língua. Isso foi muito legal ver!
Tive a oportunidade de visitar expositores da China, da Coreia do Sul, do Japão, de praticamente todos os países da Europa, dos Estados Unidos e tinha também uma ala só de empresas brasileiras, o que me deixou bem feliz.
Pude ver muitas empresas de alinhadores com as mais diferentes propostas.
Desde alinhadores impressos diretamente em resina sem precisar imprimir o modelo e fazer a placa por termoformação até alinhadores que utilizam memória do material, em placas, para reduzir o número de alinhadores, atendendo a exigências de ESG (sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa) e também de custos.
Acompanham um equipamento para “esquentar” o alinhador para ele mudar a fase de tratamento, como é o caso da Clear X. Eles prometem diminuir entre 30% e 35% a quantidade total de alinhadores durante o tratamento com essa tecnologia, que eles chamam de Reechapean, onde o alinhador vai mudando de forma quando colocado em uma temperatura específica no formato proposto.
Não sei se vocês sabem como é feito a maioria dos alinhadores, mas tirando algumas exceções, o processo ainda é relativamente manual, ou pelo menos eu pensava isso.
Na feira, ficou claro que a produção de alinhadores pode ser 100% automatizada, inclusive conheci fábricas na China que produzem alguns milhares de alinhadores por dia sem usar nenhuma pessoa.
Eles fazem tudo: da impressão em larga escala e alta velocidade, esteiras que levam os modelos para serem termoformados, e braços mecânicos que cortam essas placas via laser ou broca.
Com esse nível de produção, não duvido que muito em breve os alinhadores caiam muito de preço ou até que sejam vendidos diretamente para pacientes, sem intermédio de dentistas. Quero deixar claro que não defendo, nem concordo com isso, mas foi a sessão que tive vendo o nível de produção.
Uma coisa é certa, a Odontologia está ficando cada vez mais tecnológica, a um nível surpreendente. Minha maior surpresa foi ver a quantidade de empresas falando sobre fluxo digital e impressão 3D.
Realmente, perdi as contas de quantas empresas estavam como expositores sobre esse tema. Deu para conhecer todo tipo de impressora 3D, muitos scanners, e muita empresa nova surgindo.
Na minha visão, esse movimento é ótimo para tornar esse tipo de tecnologia mais acessível. Torço muito para que daqui a algum tempo essa tecnologia fique mais barata para nós aqui no Brasil.
Eu já tinha visto impressora de metal utilizada na indústria, mas ainda não tinha visto para o uso odontológico. É algo muito legal, pois facilita uma série de processos que um laboratório precisa fazer.
Consegue imprimir diretamente o coping de metal, a armação ou a barra fixa para protocolos. Esse tipo de máquina ainda é muito cara. Algo em torno da casa dos 300 mil euros. Mas, estamos no começo de uma revolução e em breve isso ficará mais barato e mais acessível também.
Essa foi uma das coisas que me deixou mais impressionado: é possível imprimir diretamente em cerâmica. Isso parece algo muito complexo e de fato é. A máquina que faz isso custa 500 mil euros e ainda não está disponível para vir para o Brasil.
Aliás, muitas coisas que vi lá não conseguem entrar no Brasil, em parte pela complexidade da regulamentação brasileira.
Também notei que eles têm uma dificuldade em precificação. Claramente a maioria deles não conhece a realidade financeira do nosso país e isso, associado ao fato de a nossa moeda ser desvalorizada em relação ao dólar e ao euro, faz com que poucos consigam comercializar em escala no nosso país.
Outra curiosidade que me chamou atenção foi um braço robótico trabalhando em um manequim. Inclusive, vi alguns dentistas brasileiros compartilhando essa tecnologia apresentada no evento com questões como, se o robô fizesse tudo sozinho, se um dia eles irão substituir o dentista.
Na minha visão esse foi um grande equívoco, pois esse braço não foi feito para fazer tratamento sozinho, ele serve para dar mais estabilidade à mão humana em procedimentos como implantodontia. O braço robótico poderá ajudar, mas não substituir o dentista.
Por isso, fique tranquilo ou tranquila, pois segundo um estudo, nossa profissão é uma das que menos tem chance de ser substituída.
Esse foi um ponto que me decepcionou no evento e, por outro lado, me deixou feliz. Pois eu, como fundador do Simples Dental, fui para a Alemanha com a intenção de conhecer os players do restante do mundo e trazer novidades para cá depois de mais de 10 anos no mercado odontológico. E lógico, sempre pegamos alguma referência interessante, mas eu esperava mais.
Fico feliz em saber que nosso software realmente está à frente de muitas soluções de outras partes do mundo.
No geral, as soluções apresentadas no IDS são antigas, usabilidade péssima e uma experiência visual ruim.
Vários softwares de desktop e não online — como é a nossa solução —, além de serem soluções infinitamente mais caras que no Brasil. Só para vocês terem uma ideia, um software na Alemanha custa em torno de 10 mil euros de instalação (o equivalente a R$ 55.200) e mais ou menos uns 400 euros por mês (o equivalente a R$ 2.208 por mês).
É de assustar, não é? Ou seja, nossas soluções são muito melhores e muito mais acessíveis.
Se os softwares de gestão me decepcionaram, o contrário aconteceu com software de planejamento de escaneamento 3D. Inclusive, um dos mais legais foi uma solução da Exocad com Xocad parceria com Invisalign, que consegue colocar o planejamento do sorriso em um vídeo.
Enfim, o IDS foi uma experiência incrível e que com certeza vai ficar marcada para sempre na minha carreira. Foi um verdadeiro mergulho na Odontologia do futuro e eu mal posso esperar pelo próximo evento!
Então, se você é um dentista ou estudante de Odontologia, não perca a chance de participar do IDS e aprender com os melhores do mundo.
Por último, fico muito feliz por, de alguma maneira, estar contribuindo para a digitalização de clínicas do nosso país, e saber que o Simples Dental faz parte desse movimento mundial de digitalização da nossa profissão.
No final das contas, quem sai ganhando é o nosso mercado e todos os pacientes que atendemos diariamente. Se tiverem qualquer dúvida ou sugestão não deixem de me perguntar. Um grande abraço e fiquem com Deus.